Graças aos Reis Magos (?) e ao menino Jesus (?) … ainda há férias … judiciais!!!
É verdade! Parece que já ninguém se lembra mas as férias judiciais do Natal devem ser creditadas na bondade de Jesus de Nazaré que se dignou ir nascer a Belém ou, segundo outros, na persistência e teimosia dos Reis Magos.
Há quem pense que os inventores das férias judicias foram os juízes: isso é falso!!!
Nem é por causa dos tribunais que as férias, judiciais, foram criadas: quem as reclamou, e obteve êxito, foram os Reis Magos, assim ultrapassando o “Nazareno” nas sondagens, de antanho.
É um facto historicamente indesmentível e tão certo como a árvore das patacas: as férias judiciais de Natal foram descobertas, muito antes do caminho marítimo para a índia, pelos Reis Magos.
Eles tinham que deixar os seus processos para seguir a estrela que lhes indicava o caminho de … Belém e por isso pediram férias para que os prazos não corressem.
Antes da chegada dos fariseus, todos os anos, por esta altura, os juízes gozavam o privilégio de seguir a luz, da estrela que lhes apontava os montes, os montes de processos que deveriam ser despachados para recuperar os atrasos.
Todos os anos os reis magos iam para Belém e os juízes para a montanha!! mas … e este ano???
Será que Belém é mais importante que os processos (esses pedaços de vida e esperança de cidadãos concretos)???
Não me parece: foi longa a caminhada, desgastante o percurso, pouco amianto e muito pranto e desamparada a luz da estrela!!!
Nem que seja por respeito e dignidade este Natal deixarei os processos para os Reis Magos e vou seguir a estrela de Belém!!!
Vou ficar à lareira a aquecer a alma; não vou ler o “Diário da República”, nem as colectâneas, nem a jurisprudência, nem a doutrina (talvez: Vital Moreira ou Rui Pereira); mas e sobretudo, vou ser gente (parece que é um direito que quase todos têm), vou brincar com os meus sobrinhos, jogar com os meus familiares e amigos, passear, olhar o mundo, ler livros de banda desenhada, vou ao cinema, hei-de fazer todas aquelas coisas que o corpo pede e a alma agradece….
Em três meses, desde Setembro, para além de muitos despachos de expediente, participei em mais de 20 julgamentos de processos crime colectivos, fiz mais de 60 julgamentos de processos crime singular e respectivas sentenças, fiz mais de 25 primeiros interrogatórios judicias, mais de 35 saneadores, mais de 30 julgamentos cíveis e cerca de 40 sentenças (não de preceito), isto para além dos processos de menores misturados com umas quantas formas à partilha e outras minudências e montes de condenações de preceito e extinções de execuções, etc, etc.
Não parece muito trabalho mas é um privilégio ganhar por tudo isto, e muito mais, cerca de 2.000 euros mensais, e não ter oportunidade de fazer mais nada …
Olhando para o gabinete ainda aprecio várias montanhas, não de neve ou de passeio, mas de privilégio e de esperança de que as férias judiciais servissem para escalar tais montes.
Noutros anos, passariam as férias, judiciais, e eu, como muitos outros, silenciosamente, esforçando em tal escalada.
No entanto, este ano, a escalada fez subir outros valores…
Decidi para mim e em silêncio, vou fazer como os Reis Magos: não trabalho nas férias judiciais!!!
“E prontos”: já que tenho a fama hei-de ter o proveito!!!!
Até porque nestas coisas de trabalho, dedicação, esforço e férias é como na tropa depende, sempre, das inspecções!!!
Uns têm … outros não!!!
Para todos, mas mesmo todos:
Um Santo e Feliz Natal e … boa viagem aos Reis Magos!!!!
PS: cuidado com as “cruzes“ podem acertar no “totoloto”!!.
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