Ora vira, que vira ... e torna a 'spinar'!!
Encontrei este texto.
Creio que não foi escrito a pensar em Portugal, hoje.
Mas... aqui fica!
"O que eu acho particularmente desconfortante e aviltrante no fenómeno da comunicação de massa não é tanto a prática sistemática da desinformação nem o carácter faccioso das suas mensagens, que são modeladas pela publicidade, nem sequer a ausência de espírito crítico, que o torna facilmente manipulável e vítima de maquinações e embustes.
Nada disso é novidade: desde sempre que vencer é, antes de tudo, convencer, assim como o recurso à violência sempre foi a excepção e não a regra.
Mas há na comunicação algo de novo e de inédito com respeito à retórica, à propaganda e à publicidade que não é, com efeito, o facto de transmitir e imprimir convicções na mente do público, e ainda menos o de infundir nos espíritos uma fé ou uma ideologia dotada de identidade e de estabilidade (como era o comunismo, o fascismo, o socialismo, o liberalismo, etc.).
Pelo contrário, o objectivo da comunicação consiste em facilitar a aniquilação de todas as certezas e empreender uma transformação antropológica mediante a qual o público se tornou uma espécie de ‘tabula rasa’ extremamente sensível e receptiva mas incapaz de reter para além do momento da recepção e da transmissão o que nela foi escrito.
Paradoxalmente, o público da comunicação tem total consciência de transmitir e receber aqui e agora, mas não tem memória nem inconsciente.
Isto permite que os poderosos façam e desfaçam conforme o proveito do momento sem que fiquem obrigados ao que quer que seja. Assim se despedaça o ligame entre a seriedade e a eficácia, entre a coerência e o êxito, sobre o qual foi construído o mundo moderno (e não só este!).
O mundo anglófono serve-se da palavra ‘spin’ para definir a actividade dos profissionais da comunicação publicitária e política que, mediante as sondagens, estão permanentemente à escuta das oscilações da opinião pública no propósito conseguir dominá-la e influenciá-la; a elaboração e a contínua modificação das mensagens que formam a “imagem vencedora” de um produto comercial ou de uma personagem pública conduzem à gradual erosão e esboroamento da sua identidade.
Ao passo que no mundo das ideologias a firmeza das opiniões e a constância dos comportamentos eram funcionais para o êxito, pois sobre elas se baseavam a confiança e o crédito, com a comunicação de massa é sempre necessário “to put a new spin”, “dar-lhe uma volta”, fazer uma pirueta pondo de lado os escrúpulos, que provêm da lógica e da moral.
Noutros tempos, chamava-se “vira-casacas” àqueles que, para proveito pessoal, mudavam com facilidade de opinião; o seu comportamento, embora enviesado, era por vezes momentaneamente eficaz, mas a longo prazo revelava-se penalizante.
Na comunicação já não há uma casaca, mas apenas um virar e revirar incessante que volatiliza e dissolve a casaca.
O “spin” baseia-se, precisamente na dissipação da casaca em mera técnica da comunicação."
Mário Perniola - “Contra a comunicação”, pág. 91, ed. teorema, Agosto de 2005
Nada disso é novidade: desde sempre que vencer é, antes de tudo, convencer, assim como o recurso à violência sempre foi a excepção e não a regra.
Mas há na comunicação algo de novo e de inédito com respeito à retórica, à propaganda e à publicidade que não é, com efeito, o facto de transmitir e imprimir convicções na mente do público, e ainda menos o de infundir nos espíritos uma fé ou uma ideologia dotada de identidade e de estabilidade (como era o comunismo, o fascismo, o socialismo, o liberalismo, etc.).
Pelo contrário, o objectivo da comunicação consiste em facilitar a aniquilação de todas as certezas e empreender uma transformação antropológica mediante a qual o público se tornou uma espécie de ‘tabula rasa’ extremamente sensível e receptiva mas incapaz de reter para além do momento da recepção e da transmissão o que nela foi escrito.
Paradoxalmente, o público da comunicação tem total consciência de transmitir e receber aqui e agora, mas não tem memória nem inconsciente.
Isto permite que os poderosos façam e desfaçam conforme o proveito do momento sem que fiquem obrigados ao que quer que seja. Assim se despedaça o ligame entre a seriedade e a eficácia, entre a coerência e o êxito, sobre o qual foi construído o mundo moderno (e não só este!).
O mundo anglófono serve-se da palavra ‘spin’ para definir a actividade dos profissionais da comunicação publicitária e política que, mediante as sondagens, estão permanentemente à escuta das oscilações da opinião pública no propósito conseguir dominá-la e influenciá-la; a elaboração e a contínua modificação das mensagens que formam a “imagem vencedora” de um produto comercial ou de uma personagem pública conduzem à gradual erosão e esboroamento da sua identidade.
Ao passo que no mundo das ideologias a firmeza das opiniões e a constância dos comportamentos eram funcionais para o êxito, pois sobre elas se baseavam a confiança e o crédito, com a comunicação de massa é sempre necessário “to put a new spin”, “dar-lhe uma volta”, fazer uma pirueta pondo de lado os escrúpulos, que provêm da lógica e da moral.
Noutros tempos, chamava-se “vira-casacas” àqueles que, para proveito pessoal, mudavam com facilidade de opinião; o seu comportamento, embora enviesado, era por vezes momentaneamente eficaz, mas a longo prazo revelava-se penalizante.
Na comunicação já não há uma casaca, mas apenas um virar e revirar incessante que volatiliza e dissolve a casaca.
O “spin” baseia-se, precisamente na dissipação da casaca em mera técnica da comunicação."
Mário Perniola - “Contra a comunicação”, pág. 91, ed. teorema, Agosto de 2005
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